Sejam Bem Vindos!

Quero agradecer, carinhosamente, pela sua visita e espero que possamos continuar partilhando experiências, as quais considero-as importantes para manutenção de minha recuperação.
Sua partilha (comentários) aqui nos Posts, bem como seguir-me quando julgares conveniente, é importante para que possamos estreitar ainda mais a nossa amizade, algo que é fundamental para um crescimento em nível de ser humano...ainda mais quando se trata de um adicto em recuperação, como eu.
Por isso, mais uma vez, muito obrigado por sua presença!
Que bom que você veio! Que bom que você me visitou!
Melhor ainda será ler seus comentários e ver-te aqui, sempre que possível, ajudando-me dia-a-dia.
Que O PODER SUPERIOR continue te concedendo o direito de reconhecer, aceitar e realizar a Vontade DELE, em todas as suas épocas e lugares, para que só assim, possas continuar desfrutando destas Dádivas de renovados dias Limpos, Serenos e repletos de Saúde e Paz!
Abraços e TAMUJUNTU.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

ENFIM.....FAMÍLIA REUNIDA E EM RECUPERAÇÃO.

Saudações, pessoal!

Primeiramente, espero estar encontrando todos vocês desfrutando de saúde e paz, juntamente com todos os que lhe são caro. Desejo que tenham passado o Natal em gozo de alegrias e felicidades e que o verdadeiro espírito natalino tenha se feito presente em vossos lares.
       Fiquei muito tempo sem fazer postagens aqui no blog, o que consequentemente acumulou um monte de informações que eu até acharia interessante compartilhá-las. Entretanto, como não o fiz anteriormente, acho que seria impossível fazer isso em apenas uma postagem. Portanto, usarei esta postagem para falar de um NATAL que foi mais que especial para mim.
       Após anos e mais anos de adicção em minha família, as consequências foram catastróficas. Uma verdadeira desunião familiar e consequente destruição do laço familiar foram inevitáveis. Para quem acompanha meu blog, sabe até onde chegou estas consequências. Eu e meus irmãos fomos afastados um dos outros e minha Mãe também se distanciou. Fomos viver pelas ruas, pelos sistemas prisionais, enfim. Moramos em vários lugares, mas não tínhamos mais um lar. Vivíamos aqui ou ali, tanto fazia. Não importava onde estivéssemos, mas isso também não fazia muita diferença. O importante era não faltar nossa substância de preferência.
       Passamos muitos anos sem conseguir que toda família estivesse reunida. Eu tive que sair de minha cidade natal e fui residir longe, bem distante. Passei 12 longos anos sem poder visitar minha família e, mesmo se assim eu quisesse fazer, seria difícil, pois estavam todos separados: uns morando nas ruas; outro “morando” no presídio; minha Mãe sem dar notícias, etc... Neste espaço de tempo, meu Pai faleceu e eu não pude ir ao velório, pois não podia comparecer em minha terrinha, devido a sérios problemas que causei.
       O tempo passou e finalmente as coisas estão começando a retornar à normalidade. Conseguimos entrar em recuperação desta terrível doença que é a dependência química e hoje posso dizer que tenho um lar e que minha família está mais próxima.
       Há aproximadamente uns 4 anos, conseguimos trazer minha Mãe para morar próximo de onde uma de minhas Irmãs mora, em outro Estado do Nordeste. Nesta época, o meu irmão havia saído do presídio e foi morar também com esta minha irmã. Este irmão teve dificuldades em manter-se “limpo”, mas atualmente encontra-se em recuperação e “limpo, só por hoje”.
       Há uns dois meses, recebi uma informação de que meus dois irmãos que ainda viviam pelas ruas de Recife/PE estavam vivendo sobre pressão de traficantes. Um deles chegou a levar umas porradas e só não mataram pela misericórdia divina. Isso serviu para que ele procurasse uma nova maneira de viver e de lá pra cá, ele não mais usou o “crack”. Está usando ainda “maconha”, mas está conseguindo viver bem melhor. Esperamos que um dia ele consiga abster-se de tudo. Ele está já morando numa casinha e tirou os documentos e vai começar a trabalhar em breve. Novas perspectivas para ele.
       O outro também procurou ajuda e tomamos iniciativa de tirá-lo de Recife/PE e trouxemos para perto de minha Mãe e outros irmãos. Já engordou 12 quilos e já vai começar a fazer tratamento dos dentes, que estão todos estragados. Também novas perspectivas pra ele.
       Eu tive a felicidade de ir até lá esses dias e passei uma semana com minha Mãe e irmãos, mas até aquela data, estes meus irmãos ainda estavam nas ruas de Recife/PE. Foi justamente quando eu e minha Mãe decidimos que iríamos trazê-lo para dentro de casa. A princípio, apenas um deles tinha intenção de vir conhecer essa nova localidade onde minha Mãe reside. Já o outro resistia em fazer qualquer viagem. Afirmava que estava bem lá mesmo em Recife/PE e que só o fato de não estar mais morando nas ruas, já tinha grande significado.
       Compramos a passagem de ônibus e após alguns procedimentos, um deles conseguiu embarcar, pois não tinha nem documentos. Teve que fazer um boletim de ocorrência na delegacia. Mas finalmente conseguiu viajar e chegou na casa de minha Mãe justamente no mesmo dia em que eu acabara de viajar para Recife/PE, em busca de falar pessoalmente com o outro que havia ficado lá.
       Após uma conversa bem suave, consegui convencê-lo de que seria interessante ele ir passar ao menos o Natal lá com nossa Mãe, já que há anos eles não se viam e agora ele está tendo uma nova vida e deveria dar essa alegria a nossa Mãe. Ele aceitou com a condição de ficar lá apenas poucos dias.
       Finalmente consegui embarcá-lo e ele chegou à véspera de Natal na casa de minha Mãe. Infelizmente apenas eu e minha irmã caçula que está morando comigo não podemos nos fazer presente, mas este ano de 2014 vai ficar na história em nossa família, pois após quase vinte anos de sofrimento, minha Mãe conseguiu reunir em casa e numa noite de Natal, seus filhos queridos.
       Fiquei e ainda estou bastante emocionado por saber que eles estão lá, reunidos e em clima familiar. Conversei bastante com eles por telefone e soube que eles estão amando o local. Um deles já decidiu que realmente vai ficar por lá e o outro disse que vai retornar para Recife/PE, mas que em breve vai voltar. Espero que realmente ele retorne e tenha uma nova oportunidade de recomeçar a vida.
       A felicidade é tão grande que eu não tenho nem palavras para expressá-la. Gostaria de compartilhá-la com cada um de vocês, pois vocês são parte de minha vida e base de minha recuperação. Tenho certeza de que sem vocês eu não conseguiria estar aqui, vivendo um dia de cada vez, limpo, só por hoje.
       Quero dizer que foram anos esperando por este momento, mas que até que em fim, este momento chegou. Não sei se durará muito tempo, mas o que importa é que estou vivendo-o.
       Não me interesso em preocupar-me com o futuro, pois vivo o momento presente. Me importarei com o HOJE, o AGORA e agora, neste momento, estão todos juntos, unidos e reunidos em família, no que eu posso chamar de LAR, coisa que há duas longas décadas não tínhamos mais.
       Que O Poder Superior continue abençoando cada um de nós, adictos em recuperação, bem como a cada um familiar que também sofre com a codependência. Esperamos que um dia a Luz também brilhe para vocês. E que a nossa Luz continue sempre acesa e brilhante, iluminando nossos caminhos, hoje e sempre.
       Meus votos são para que 2015 seja um ANO realmente NOVO em nossas vidas. Que novos horizontes nos seja traçados e que possamos caminhar seguros de que há uma saída. Continuemos juntos nos laços que nos une, e que eles sejam mais forte que os que nos separam.
       Um forte e carinhoso abraço deste adicto em recuperação.

       TAMUJUNTU. 

domingo, 14 de setembro de 2014

EMOCIONAL x RACIONAL

Saudações, meus queridos e minhas queridas!

Espero que estejam todos desfrutando se muita saúde e paz, juntamente com todos os que lhes cercam.

Aqui, comigo, tudo tranquilo, apesar dos probleminhas familiares que sempre acontecem.

Recentemente um de meus irmãos havia recaído e isso foi um transtorno infernal. Para quem acompanha meu blog, sabe um pouco de minha história de de minha família. Este irmão que estou falando, ele estava "limpo" há algum tempo e "vacilou", descuidou, usou.  Começou com as insanidades lá onde ele estava morando e a esposa não mais aguentou. Daí me procuraram para que eu pudesse ajudá-lo. Eu havia dito que ele não estava querendo se tratar, pois o comportamento e as atitudes dele falavam por sí.

Após um tempo, resolvi trazê-lo para perto de mim e coloquei-o numa comunidade terapêutica que estou sempre presente. Lá ele permaneceu tranquilo por 5 meses, quando, repentinamente, surge uma chamada da Justiça, para comparecimento dele lá onde ele morava. (Digo repentinamente, mas já sabíamos que a qualquer hora ele seria chamado).

Pois bem. Ele teve que ir lá. Então, programou-se para retornar à comunidade, onde pretendia passar mais 4 meses e terminar o "tempo sugerido" para tratamento.

Quando ele estava para viajar, eu tive uma conversa com ele e falei sobre esta viagem que ele estava indo, sobre o propósito da mesma e falei até sobre a possibilidade dele ficar por lá mesmo, sem necessariamente ter que voltar para a comunidade aqui, pois lá onde ele reside também tem comunidades terapêuticas, bem como tem grupos de NA e AA próximos.

Porém, ele me disse que pretendia voltar para a CT onde estava se tratando, até mesmo porque foi o local onde ele conseguiu passar mais tempo "limpo". 

Ele viajou. Acho que não passou nem 1 dia "limpo". Pelo que consegui levantar, acho que ele já saiu daqui recaído. Mas como eu não tenho como provar isso (e nem me cabe a fazer isso), apenas falo sobre o que ficou exposto. Até mesmo porque um adicto não consegue usar escondido por muito tempo.

No início, ainda tentou me esconder, mas eu já sabia que ele estava na ativa. Ele conversava comigo, dizendo que já tinha comparecido no Juíz o e mesmo adiou a Audiência e que pretendia voltar para a CT aqui onde estava. Eu disse que ele tinha que ficar lá, que era para ele parar com esse negócio de institucionalizar-se, que já bastava de tanta internação e prisão, que ele tinha que trabalhar para cuidar dos filhos, etc.

A princípio, ele ainda relutou, mas quando ele percebeu que eu não queria mais ele aqui perto de mim, ele concordou que iria ficar por lá mesmo.

Na real, na real, não era que eu não queria ele aqui perto de mim. A verdade era que ele estava mentindo, estava usando e queria tentar me fazer de besta. Então, enquanto ele não falasse a verdade, não tinha como eu ajudá-lo. A iniciativa tinha que vir dele. Recuperação de dependência química requer total honestidade consigo mesmo. E ele não estava conseguindo ser honesto com ele mesmo.

Foram poucos dias para que tudo ficasse transparente. Ou melhor, ficasse tudo sujo. Ele estava recaído, usando e já aprontando novamente.

Como eu havia dito que não queria que ele voltasse, ele então manipulou a esposa, a qual há havia reatado o casamento, e arrumaram lá a passagem dele e mandaram ele de volta para cá. 

Certo dia, estou eu na porta do grupo, com minha irmã e minha filha, quando elas olham e dizem: "Olha quem vem ali!".

Quando olhei, lá vinha ele!

Uma bolsa nas costas, uma sacola enorme de pão (Acho que tinha umas três sacolas com uns 30 pães). Até hoje não sei pra que, mas acho que ele pretendia vir direto para a comunidade terapêutica.

Quando ele chegou perto, as meninas abraçaram ele e foi aquela alegria (entre ele e elas). Já eu.... (Só em lembrar, já bate a tristeza novamente).

Apenas olhei e perguntei:"-O que houve?"

-Nada! -Respondeu ele.
-Como nada?!?! E tu veio fazer o que aqui? - Indaguei já em tom de voz diferente.
-Oxente! Vim passear. Posso não, é? 
- Passear?!?!!?!    E aqui é a Disney ou algum lugar de passeio?  - Perguntei já estressado e furioso.

Nessas alturas, todos já percebiam que eu não estava nada alegre com a chegada dele, inclusive ele mesmo percebeu e disse:

-Agora eu vi. Se eu soubesse, não teria vindo.

"Se eu soubesse...". Como "se eu soubesse"? Eu deixei bem claro que eu não queria que ele viesse. Ele sabia disso, sim. Eu falei diretamente para ele quando ele ainda estava lá. Agora ele vem com essa "se eu soubesse., não teria vindo".

-Se eu soubesse, não.... Você sabia, sim. Eu falei para você ficar por lá mesmo. - Disse-lhe já alteradamente.

O pessoal percebeu que não iria dar certo aquela conversa naquele momento e chamaram para entrar, pois já estava para começar a reunião.

Entramos todos. Durante toda a reunião, meu sangue fervendo. Minha cabeça rodada. Muitas coisas passaram. Comecei a me questionar o por que que minha Mãe e a esposa dele não haviam me ligado para dizer que ele estava vindo. Comecei a ficar com raiva delas. Cheguei a dizer para minha companheira que não iria mais nem atender os telefonemas delas. A insanidade já estava se instalando em mim novamente.

Ao final da reunião, fui chamado para fazer uma leitura de nossa Literatura. Coincidentemente, o texto abordava honestidade. Daí eu aproveitei para fazer aquela velha crítica. (Sei não talvez não fosse o momento, mas eu fiz mesmo assim).

Ao término da reunião, fomos discutindo todo o caminho de volta para casa. No outro dia, já comecei a fazer besteira. Admito que tive atitudes e comportamentos que não deveria ter. Mas finalmente consegui levá-lo novamente a comunidade terapêutica e segui minha rotina de trabalho "normalmente", se é que posso dizer normalmente.

Poucos dias já estava recebendo reclamações dos monitores. Meu irmão não estava mais com o mesmo comportamento de antes. Fui levantar as informações e descobri o motivo: simplesmente ele estava dizendo que não havia recaído e que havia retornado apenas para terminar o tratamento dele, quando, na verdade, toda a CT já sabia da verdade. Ele achava que ninguém estava sabendo e queria ter os mesmos direitos que tinha antes, por já ter passado pela fase inicial da internação. Porém, como a direção da casa já sabia da verdade, estava aplicando a ele a mesma regra dos recém chegados, o que ele não admitia e dizia que todos estavam contra ele.

Conversei com ele, mas não adiantou. Ele começou a dizer que queria ir embora. Mas eu não iria dar o dinheiro e agora a esposa dele também não mais apoiava. Então ele não tinha como ir. Pelo menos sem dinheiro ele não tinha como ir.

Foi quando ele começou a aprontar. Uma destas "aprontações", ele saiu da casa, pegou um taxi lotação que tem no município e furtou o celular do motorista. Isso deu uma confusão enorme. Eu estava numa cidade próxima e tive que sair as pressas para lá. Foi uma loucura!

Poucos dias depois, ele saiu de vez da CT. Foi atrás de uma companheira nossa da Irmandade, dizendo que minha Mãe iria mandar um dinheiro, mas que ele estava precisando de dinheiro naquela hora para comprar a passagem dele e tals. Mas ela já estava avisada de que não deveria dar dinheiro para ele, então, ela não deu.

Me ligaram dizendo que ele havia saído e onde haviam deixado ele. Rapidamente corri para lá. Era no trabalho desta companheira, a qual me disse que ele havia passado por lá e agora estava a caminho de minha casa.

Corri para casa e ao chegar, vi a porta semi aberta. Ao entrar, me deparo com ele sentado no chão, costurando uma bolsa (mochila) de costas. Olhei para ele e simplesmente perguntei:   -Eai? Qual foi?

Ele levantou a cabeça e me perguntou, quase já sabendo a resposta:
-Posso ficar aqui até as cinco horas, que eu vou pegar o ônibus nesse horário? (isso eram aproximadamente umas 10:00hs).

Nessa hora, deu uma raiva tão grande, mas tão grande, que fechei os olhos, dei uns passos para dentro de casa, para sair da porta e respirei profundo.

- Não! Tem não! Pode sair agora mesmo! - Respondi.


Sei que fui duramente criticado por ter tido esse comportamento. Reconheço que fui duro demais, mas em dependência química, o emocional não funciona, não. Ou agimos com o racional, ou simplesmente somos vítimas de nossa co-dependência.

Confesso que chorei. Chorei por dentro e por fora. Nunca imaginei ter que colocar meu irmão para fora de minha casa.   Ele que estava tão distante da família, não tinha nenhum parente ali por perto... Pra onde ele iria? Aonde ele iria ficar?

Antes dele sair, tivemos ainda uma discussão. Ele disse-me umas coisas que eu não queria ouvir e eu disse outras que ele também não queria ouvir. Após alguns minutos de tensão, ele pegou as coisas dele, falou com minha irmã, se despediu dela e saiu. (Cabe aqui dizer que minha irmã tem apenas 15 anos, é cheia de problemas e está morando comigo.)

Passei muitos dias tentando escrever esta postagem, mas toda vez que chegava neste ponto, a emoção falava mais alto e não conseguia escrever. 

Já se passaram alguns dias que isso aconteceu. Neste dia em que ele saiu de casa, após alguns instantes dele sair, eu abri a porta e o vi sentado na calçada de frente. Estava sozinho, cabisbaixo. Me aproximei dele, na tentativa de um diálogo, mas ele foi logo alterando a voz e dizendo que não era nem minha mulher, nem minha filha e nem minha rapariga para eu falar gritando com ele. E disse-me ainda que se eu continuasse falando alterado com ele, a gente iria se estranhar.

Nesse momento, mais uma vez eu perdi a cabeça. Disse-lhe que fosse embora dali, pois eu iria chamar a polícia para ele. Disse ainda que iria encaminhá-lo para o presídio da capital e que lá ele iria ficar um bom tempo, pois eu mesmo iria ser testemunha de acusação contra ele. Falei até e matá-lo, se ele continuasse falando merda ali comigo.

Após alguns instantes, percebi que estava agindo feito louco. Percebi que eu estava tendo comportamento de quem está na ativa. Reconheci que estava passando dos limites e resolvi entrar.

Ele saiu. Eu fiquei chorando lá na cama. Minha cabeça queria me culpar. Eu que coloco até estranho dentro de minha casa, agora estava expulsando o meu próprio irmão.  Quem era eu para fazer isso?

Mas eu sabia que estava tentando fazer o certo. Eu sabia que estava agindo como deveria agir, por mais estranho que parecesse. Eu não podia permitir que ele mesmo continuasse se enganando. Ele teria que cair na real e admitir que estava precisando de ajuda. Caso ele quisesse ficar lá em casa para se tratar, não tenho dúvidas de que eu teria permitido. Mas para ficar lá em casa e usando drogas e pegando minhas coisas para vender, jamais permito isso.

Com estes pensamentos, fiquei o restante do dia até que, por volta das 23:00hs, recebi um telefonema dizendo que ele estava na casa da irmã da proprietária da comunidade terapêutica, mas estava lá usando drogas com o sobrinho dela. Detalhes: esta casa já não tem mais nada dentro, somente mesmo as paredes. E este dito rapaz da casa já havia tido uma polêmica com meu irmão, pois tempos atrás, quando meu irmão estava ainda de boa na comunidade terapêutica, esse rapaz teve uma crise de abstinência e quebrou tudo dentro de casa e queria matar a Mãe dele, daí chamaram os internos da casa para segurá-lo e amarrá-lo. Meu irmão foi um dos que participou dessa contenção. Então isso gerou uma certa raiva por parte do rapaz para com todos os que amarram ele.

E agora meu irmão estava lá usando drogas com ele, altas horas da madrugada.

Quando me ligaram, me chamaram para ir lá tirar ele de lá, pois sabiam que poderiam eles se estranharem e a família do rapaz temia meu irmão fazer alguma mau a ele ou vice-versa.

Eu estava com minha irmã e outra amiga quando o carro chegou para nos apanhar e ir lá no recinto. Entramos e lá estavam uma turminha no quintal. A casa dava arrepios ao entrar. Eu lembrei do apartamento em que morávamos, que teve o mesmo fim.

Após várias tentativas, retornamos para casa, sem êxito na missão. Ele não queria vir. Preferiu ficar por lá.
Não tínhamos muito o que fazer, a não ser orar e entregar tudo nas mãos do PS.

Quase não consigo dormir nessa noite. Nem preciso dizer como estava me sentindo.

No outro dia, me ligaram dando notícias dele. Ele estava numa cidade próxima, na empresa de uma amigo nosso, o qual é mantenedor da comunidade terapêutica. Esse nosso amigo queria saber se podia ajuda-lo, comprando a passagem de volta para casa. Eu falei que não seria bom ele fazer isso, pois a esposa dele não mais queria ele e nem eu queria que ele fosse para perto de minha Mãe.

Ele deu dormida e comida para meu irmão, que a essas alturas já estava debilitado.

Entrei em contato com a esposa dele e ela resolveu dar mais outra oportunidade. (Sempre digo que esposas de adicto são mesmo uma heroína. Quando morrerem, vão para o Céu de tripa e tudo. Já pagaram todos os pecados aqui na terra.)

Resumindo: a passagem dele foi comprada. Eu estive lá na cidade no outro dia pela manhã. Me encontrei com ele no hotel. Conversamos alguns instantes. Pedi desculpas pelo que fiz, mas expliquei a ele os motivos. Desejei-lhe uma boa viagem e que ele colocasse a cabecinha no lugar, pois já estava grandinho demais para fazer besteira.

Ele partiu. De lá para cá, não mais falei com ele diretamente. Apenas tenho conhecimento de que ele está melhorzinho. Está tomando medicação. Está trabalhando. Sempre vejo fotos dele postando no tal de facebook. Ele ainda curti algumas fotos minhas e esses dias, excepcionalmente nesse dia, ele deixou um recadinho no meu facebook, pois era meu aniversário.   Mas não mais nos falamos. Acredito que ele ainda esteja ressentido comigo.

Quanto a mim... Não quero carregar culpa. Esse sentimento de culpa não me ajudará em nada, pois tenho consciência de que tentei de todas as formas e quando um familiar tem uma decisão dessa, certamente não há nada mais a fazer. Foram várias as tentativas e várias vezes o acolhi. Mas das outras vezes ele admitia que estava querendo se tratar ou, quando não admitia que precisava de ajuda, mas pelo menos não mentia dizendo que não estava usando. Enquanto que desta vez estava sendo diferente. Ele estava usando e mentindo, tentando esconder para ele mesmo a verdade. E as consequências disso já estavam indo longe demais e estava me prejudicando.

Hoje eu vejo que foi a coisa mais certa que eu fiz. Ele estava mesmo precisando desse tratamento. Talvez se não tivesse dito para ele ir embora, ele estava ainda usando minhas coisas para adquirir drogas.

Peço desculpas pelo longo texto. Também não recomendo ninguém a expulsar seus familiares de suas casas.
Esse depoimento é meu, foi a minha experiência, que não necessariamente pode servir para você está lendo e passando pelo mesmo problema.

Mas de uma coisa de lhe garanto: EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA, O EMOCIONAL NÃO FUNCIONA. TEMOS QUE AGIR CONFORME O RACIONAL.

Eu agradeço ao meu Poder Superior pela Dádiva de passar mais um dia "limpo". Está chegando o dia de renovar mais um ciclo anual em minha sobriedade. Faltam 4 dias para meus 19 anos de abstinência. Entretanto, viverei este meu momento como o mais importante para mim, pois para que eu consiga completar meus 19 anos, terei que passar mais 24hs.

Um forte e carinhoso abraço a cada um de vocês.
Meu muito obrigado por fazerem parte de minha vida. Sem vocês, eu não teria conseguido me recuperar.

Até a próxima postagem!

Continuo sendo o Júnior, um adicto em recuperanção, "limpo, só por hoje".

TAMUJUNTU.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

VOCÊ ESCOLHE QUEM VAI SER.

Saúdo à todos com um forte abraço.
Como é bom estar aqui com vocês!

Muito embora não eu esteja escrevendo aqui todos os dias, mas a sensação de estar compartilhando fé, forças e esperanças me é tão peculiar, que até parece que venho aqui todos os dias transmitir minha gratidão para com cada um de vocês. Se bem que não há palavras que consigam descrever tamanha gratidão.

O tema desta postagem pode ser estendido para todas as circunstâncias de nossas vidas e não somente a questão da dependência química: "VOCÊ ESCOLHE QUEM VAI SER".



Em toda minha vida, sempre tive várias oportunidades de fazer escolhas. Em muitas delas, escolhas simples, onde as consequências de fazê-las erradas não implicariam (como não implicaram) em graves perdas e/ou danos. Já algumas destas más escolhas resultaram em consequências nem tanto agradáveis. Enquanto que, por fazer outras escolhas corretas, obtive satisfatórios resultados. Tudo isso em uso de meu direito de livre arbítrio.

Muitas vezes fui advertido pelos meus Pais: "Meu filho, não faça isso!"; "Júnior, isso 'ta' errado, não faça mais!"; "Se você fizer isso, vai quebrar a cara!".

Na verdade, eu me ressentia com aquelas  advertências. Eu as entendia como reclamações. Parecia que o mundo estava se acabando quando alguém me dizia que não era para fazer algo. Normalmente eu tornava a fazê-lo só de implicância. É claro que eu tinha que realmente quebrar a cara. E realmente paguei (e ainda pago) o preço.

Sabemos que repetir os mesmos erros esperando resultados diferentes é insanidade. É, realmente eu era insano. Aliás, eu vivia insano e amava insanidades.

Desde pequeno, eu já tinha em mente o que eu querida ser quando crescesse. Naquela época, eu começava a escrever minha história de vida e começava a fazer minhas escolhas, às quais iriam me fazer ser quem eu queria.

É claro que ninguém nunca me deu opções de escolher em ser ou não um adicto. Se eu não tivesse entrado no Submundo do Sistema, certamente não estaria aqui escrevendo pra vocês. Entretanto, devido ao uso de drogas, eu já não tinha  mais forças para escolher quem eu verdadeiramente queria ser.

Para quem está lendo esta postagem e nunca experimentou drogas (lembrando que álcool é droga), seria bom que nunca experimentassem. Já aqueles(as) que estão lendo esta postagem, usam drogas, mas ainda não se consideram adictos (ou realmente não são adictos), eu friso que adicção não dá aviso prévio. A doença da adicção manifesta-se silenciosamente e, de uma hora pra outra, não se consegue mais tomar apenas uma cerveja, cheirar apenas uma grama ou fumar apenas duas "pedras".

Em termos de conceituação, considera-se Adicção a situação do usuário crônico ou viciado, estando entoxicado ou não, compulsivo pelo uso da substância tóxica e concentrado nessa busca.

Mesmo sem conhecer essa tal Adicção, caminhei, através de minhas escolhas, rumo à uma vida louca, engrenada de insanidades e tragédias. Segui por um caminho totalmente ao contrário do qual eu pretendia quando criança. Porém, foi ainda criança que tudo começou em minha vida.

De tantas escolhas erradas, acabei perdendo alguns direito de escolhas.

Por faze a escolha de usar drogas, acabei perdendo o direito de continuar meus estudos. Com isso, já não mais podia escolher minha profissão que sonhava desde pequeno.

Por fazer a escolha de usar drogas, acabei perdendo o direito de escolher um presente de meus Pais. Eles já não me presenteava, pois realmente eu não merecia.

Por fazer a escolha de viver à margem da Lei, acabei perdendo o direito de escolher um lugar para passear. Acabei vivendo como recluso e as únicas escolhas de para onde ir eram em dias específicos da semana, onde eu podia optar em ir ou não para o banho de sol, ou continuar na cela.

E assim foram várias as escolhas que não mais pude fazer. Até que tive que fazer a mais correta e bem feita escolha de minha vida. Parar de usar drogas e mudar a maneira de viver.

Quando me vi numa situação entre a vida e a morte, eu só pude optar por uma destas duas opções: ou continuava usando pra morrer, ou parava de usar para viver.

Hoje eu tenho o direito de escolher quem eu quero ser. Só por hoje, eu tenho o direito de mostrar pra sociedade que posso ser um ser humano digno de respeito, bem como posso escolher mostrar pra sociedade que sou um criminoso. Só por hoje eu posso escolher ser uma pessoa bondosa, como posso escolher ser um adicto na ativa com atos monstruosos. Só por hoje eu posso escolher ir para uma sala de recuperação, como posso escolher ir para "boca" comprar drogas. Só por hoje eu posso escolher minhas boas companhias, como posso escolher me juntar com más companhias. Só por hoje eu posso escolher procurar viver em liberdade, bem como posso escolher arriscar perdê-la.

Só por hoje eu posso escolher ser um homem produtivo e essa é a minha escolha.

Hoje eu não posso mais escolher em ser ou não um adicto, mas posso escolher em estar ou não em recuperação.

Só por hoje eu posso escolher em continuar ou não meus estudos. Só por hoje eu posso escolher quem eu serei.

E só por hoje eu escolho ser o Júnior, um adicto em recuperação, Limpo, Só Por Hoje.

Um forte e carinhoso abraço a todos vocês!
TAMUJUNTU.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

UMA NOVA MANEIRA DE VIVER.

Olá, Pessoal!
Desejo encontrar-lhes desfrutando de saúde e paz.
Posso dizer que estou bem, pois estou “limpo”, só por hoje  e  isso já é motivo o suficiente  para que eu  esteja  bem.
Sem postar a alguns dias, recebi alguns telefonemas perguntando o que havia acontecido para que eu não estivesse escrevendo. Quero tranquilizar meus amigos(as) que se preocupam comigo de que está tudo bem e não tive fazendo postagens  por motivos alheios a minha vontade.
Mas agora estou aqui novamente para compartilhar fé, forças e esperanças, para que meu dia seja produtivo e alegre e, principalmente, sem uso de drogas.
Estou, neste momento, na comunidade terapêutica... quer dizer, numa espécie de “comunidade terapêutica”, pois  apenas assemelha-se ou, no máximo, tenta ser uma. (Digo isso pelo fato da falta de estrutura, tanto material, quanto pessoal, apesar da grande boa vontade  e  dos  responsáveis pela casa).
Estou aqui fazendo atividades com os 36 internos que temos. Uma parte deles está ali, cuidando do terreno em enorme que a casa dispõe. Estão limpando, varrendo, apanhando as folhas, enquanto que outro grupo está cuidando das plantas, pois eles levam parte da produção para a feira que acontece todos os sábados aqui na cidade. Outro grupo está trabalhando na produção de pré-moldados, pois conseguimos trazer essa atividade para a casa recentemente e uns deles estão muito empolgado com a nova terapia.
Também temos outro grupo que está produzindo trabalhos artesanais, como canetas decoradas com linha, trabalhos com palitos de picolé (barcos, casas, abajur, porta joias, porta retratos, etc).
A beira de um açude, pequeno grupo se aglomera, atirando ração para peixes e pescando por esporte, devolvendo os peixes fisgados ao pequeno açude na propriedade da casa.
Há também uns que estão limpando as coisas na cozinha, enquanto que outros já providenciam o almoço.
As atividades matinais já estão próximas de se encerrarem e alguns esperam pelo almoço, deitados nas redes espalhadas pelo espaço do pátio.

Eu aqui, sentado, ao lado de um grupinho de quatro jovens, que conversam entre si, sobre casamento. Uns deles se relacionam com as meninas internas na unidade feminina e estão fazendo planos de se casarem. O assunto os deixa motivados para uma nova vida, novos compromissos, novas metas e objetivos.
Cá em meus pensamentos, observo como eles levam diferente sua rotina na casa.
Pouquíssimo deles, pra não dizer nenhum destes que aqui estão, tinham o hábito de ajudarem nas atividades de casa, quanto ainda moravam com suas famílias.
Aqui, após fortes chicotadas do submundo, eles se dispõem, voluntariamente, a fazerem coisas que relutaram anos e anos para não fazerem.
É o caso de um que observo daqui de onde estou sentado. Ele mesmo conta em suas partilhas que nunca havia segurado uma vassoura, durante todo o tempo em que se dá conta de vida. Viveu conjugalmente durante mais de uma década, mas nunca ajudou nas atividades domésticas. E ainda chegava reclamando em casa quando as coisas não estavam como ele queria.
Aqui na casa, junto aos demais, ele leva uma rotina totalmente diferente. Ele é um dos que são da equipe de limpeza. Ele é responsável pela limpeza tanto do pátio, quanto da caixa de gordura. Faz isso duas vezes por dia, todos os dias, de segunda a segunda, faça sol ou faça chuva.
Conversando com ele ainda há pouco, o escutei dizer que sabia das consequências que as drogas poderiam trazer-lhe. Ele sorriu e disse: “Aquela vida que eu tinha eu sabia que eu poderia ir parar numa cadeia, como de fato fui. Eu sabia que podia ir parar num hospital, como de fato fui. Eu sabia que podia sair de casa, perder família, como de fato aconteceu. Eu sabia que podia morrer, como quase aconteceu. Eu só não sabia que minha vida louca podia me ensinar a varrer terreiro e lavar louça, coisa que eu nunca quis fazer na vida”.
O observo aqui ele ensinando a um recém chegado onde deve ser colocado o lixo recolhido. Ele já não é mais tão arredio quanto antes. Não tenta fumar escondido dentro da casa e até vigia os que tenta fumar folhas seca.
Sua simpatia consegue aproximar até mesmo os que estão aqui procurando apenas uma oportunidade para ir embora. Seu jeito bruto já não mais espanta, pois ele hoje consegue se permitir ser o homem de bem que as drogas conseguiram esconder dentro dele mesmo.
Eu continuo aqui sentado, sentindo a brisa. Continuo olhando as folhas caindo e um certo grupo já reclamando da natureza, pois acabara de varrer embaixo das mangueiras gigantescas que tem no terreno. Mas também continuo escutando vozes dizendo: “Tem nada não! Deixa cair! Nós tamos aqui pra apanhar!”.
Essas vozes soam diferente nos ouvidos dos que ainda não querem ou não conseguem se submeterem ao tratamento. Ainda não conseguem se renderem ao processo de terapia ocupacional para minimizar a vontade de estar na rua, perto das drogas e dos que delas usam. E enquanto essa voz soar estranhamente em seus ouvidos, mui lamentavelmente a recuperação se distancia.
Entretanto, aos que conseguem escutá-la tão suavemente quanto o canto dos pássaros que cantam nos pés de manga, sua recuperação, só por hoje, será possível.
 “Qualquer adicto que tenha o desejo de parar de usar drogas, pode parar de usar, perder o desejo de usar e encontrar uma nova maneira de viver...”.
Essa maneira de viver está diretamente condicionada com seu grau de rendição e renúncia, pois aqueles(as) que ainda alimenta qualquer esperança de controlar seu uso e/ou não consegue se entregar inteiramente ao processo do tratamento, infelizmente essa reserva irá levá-lo a loucura e a morte prematura.
Só por hoje, eu não quero usar drogas e não irei usar drogas.
Só por hoje continuarei voltando. Só por hoje continuarei sendo grato pela minha recuperação e minha gratidão fala quando me importo e compartilho com os outros o caminho de NA.
Um forte e carinhoso abraço!
Que o Poder Superior, em Sua infinita bondade, nos conceda o direito de reconhecer, aceitar e realizar a Sua Vontade em todas as nossas épocas e lugares, para que só assim, possamos ser merecedores de Suas Dádivas, como saúde, paz, serenidade e sobriedade.
Eu continuo sendo o Júnior, um adicto em recuperação, Limpo, Só Por Hoje.

TAMUJUNTU.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

MINHAS ALEGRIAS, MINHAS DIVERSÕES...

Olá, pessoal!
Tudo bem com vocês?
Desejo estar encontrando todos desfrutando de saúde e paz, ao lado dos seus familiares.

Estou bem, graças a Um Poder Superior, que tem me permitido viver de 24 horas em 24 horas, evitando usar substâncias que alterem minha mente e meu humor.

Este milagre vem se repetindo em minha vida já há algum tempo, mas o dia mais importante, pra mim, é hoje. Por isso, estou aqui agradecendo por mais um dia "limpo".

Domingo passado (06/04/2014), tivemos uma tarde maravilhosa com os alunos da comunidade terapêutica, numa pacata cidadezinha no interior do Maranhão. Digo "pacata", entretanto, já nem cabe mais esse adjetivo, pois a violência já está de certa forma, assustando os moradores e visitantes desta pequena cidade, próxima da capital maranhense. As drogas estão presente e, consequentemente, os crimes a elas relacionados estão acontecendo em grande números.

Pra completar, a polícia militar do Estado do Maranhão passou uns dias em greve, daí, pronto! Pensem num caos total! Pensem num desassossego! Um verdadeiro clima de tensão e medo tomou conta da população.

Mas, como eu dizia, tivemos uma tarde maravilhosa neste último domingo (06/04/14), com os alunos da CT. Não que tenha acontecido algo fora do normal, fora do cotidiano deles. Apenas uma visita de uma companheira nossa, cabeleireira, que "deu um grau" no visual deles. Eles simplesmente amaram o trabalho voluntário desta companheira. Alguns não recebem visitas e quando aparecem pessoas lá e os dá atenção, isto é fantástico para eles. E para nós também.

No caminho da comunidade terapêutica, passa-se por um balneário. É o único da cidade e, por isso, é um ponto de muito movimento, especificamente aos fins de semana. Pessoas das cidades aos redores também se fazem presente. Nas localidades, um trânsito ainda mais louco, principalmente por ser as margens de uma rodovia federal.

Agora, vocês imaginem o seguinte: uma rodovia federal, porta única de entrada dos que seguem para a capital maranhense, um movimento intenso de carretas e caminhões e ônibus, etc... Veículos numa velocidade assustadora. Isso num perímetro urbano, mas numa cidade pequena, sem muito policiamento (e agora que estava em greve, piorou mais ainda)... Muitos adolescentes (e até crianças) pilotando motos... Grande parte dos condutores altamente alcoolizados. Pouquíssimos utilizando capacetes. Motocicletas com três, quatro ou até mais pessoas. É comum ver os pais levando duas ou três crianças na moto. É muita loucura.

Com tudo isso acontecendo, não seria de se admirar se soubéssemos e/ou nos deparássemos com acidentes. De fato, não foi diferente. Lamentavelmente, aquilo que seria uma diversão para eles, tornou-se momentos de tristeza. Familiares desesperados, agora corriam em busca de socorro, para encaminhar para hospital da capital, aqueles que ainda continuavam respirando. Já outros, infelizmente não tiveram a mesma sorte.



Em momento de reflexão, ainda no caminho de volta, a companheira disse: "Todo mundo precisa beber pra se divertir! A gente tem uma maneira tão diferente de se divertir!".

Falávamos de como foi divertido ter passado uma tarde numa comunidade terapêutica. Ela cortou mais de 30 cabelos. Participamos de uma reunião de partilha. Fizemos estudo de literaturas. Sorrimos junto com nossos irmãos. Compartilhamos fé, forças e esperanças. Tudo isso sem necessidade de fazer uso de drogas. Enquanto que, ao mesmo tempo, existem pessoas (e não são poucas) que necessitam (ou pelo menos acham que necessitam) de fazer uso de bebidas alcoólicas e/ou outras drogas, para poder se divertirem. Acreditam que têm que ficarem "loucas" para poder dizer que aquilo é diversão.
Eu não critico, pois passei anos de minha vida tendo essa mesma visão. Eu também acreditava que só podia estar me divertindo num clube, se estivesse bebendo e usando. Eu também acreditava que se eu fosse pra uma cachoeira ou uma praia, só tinha diversão se tivesse drogas. Mesmo com o final da "festa" sendo trágica, eu ainda achava que aquilo era diversão. Eu ainda dizia o seguinte: "a festa hoje só vai ser boa se tiver um zuada muito louca!".

Vejam quanta insanidade. Eu achava que confusão era sinônimo de diversão. Achava bom quando rolava uma doideira. Eu me divertia com as desgraças alheias e para isso, não hesitava em fazê-la, afinal, eu queria era diversão.

Algum tempo passou e hoje tenho uma nova visão sobre isso. Não preciso andar a 160 km/h, passando em sinal vermelho e sem parar em cruzamentos, para poder dizer que estava me divertindo.

Percebo que já não me divertia e, por algumas muitas vezes, fui motivo de diversão de muita gente que presenciava minhas insanidades. Fui motivo de risadas, quando as pessoas me viam cambaleando e tentando atravessar avenidas, ainda querendo ser valente com os motoristas que não paravam para eu passar. Muitos riram de mim quando eu queria tirar a roupa, só pra chamar atenção em meio a multidão que participavam de rachas de carro. Nem precisa falar aqui as insanidades que eu fazia... Basta dizer que todo esse papel ridículo que um drogado pode fazer, eu também fiz.

Enquanto alguns riam, minha mãe chorava. Enquanto alguns achavam graça, minha esposa sentia vergonha. E enquanto minha mãe e minha esposa choravam e sentia vergonha, eu me divertia com tudo aquilo.

Sou imensamente grato Ao Poder Superior por estar me permitindo a Dádiva da recuperação. Sou grato pela Dádiva de estar reconhecendo minhas insanidades, a fim de não mais cometê-las. Agradeço à Ele por esse milagre em minha vida. Faço sempre minhas reflexões e meditações, tentando melhorar meu contato consciente com O Poder Superior, em busca do conhecimento da Vontade dEle em relação a mim. Preciso saber qual é a Vontade dEle, para que eu não queira fazer a minha vontade. Meus melhores planos me levaram aos meus maiores fracassos. Preciso saber eu não sou o deus. Preciso abdicar de minhas próprias vontades e ter forças para realizar a Vontade dEle.

Tenho conseguido isso, mesmo que pouco, mas o suficiente para permanecer "limpo", só por hoje.

Tenho convicção de que não posso e nem quero mais ter aquelas diversões de antigamente.

Tenho consciência de que sou totalmente impotente perante as drogas e que minha vida havia se tornado incontrolável.

Tenho certeza de que aproveito muito mais a vida, não usando drogas.

Tenho dias bem mais alegres ao lado dos meus companheiros adictos em recuperação, de que se estivesse sentado num bar ou numa "quebrada", usando drogas.

Hoje eu agradeço Ao Poder Superior por mais essa alegria de compartilhar desses momentos alegres e felizes em minha vida.

Agradeço a cada um de vocês que hoje me proporciona esses momentos em minha recuperação. Espero que possamos juntos, desfrutamos de muitos outros momentos como este.

Um forte e carinhoso abraço a todos e que O Poder Superior, em Sua Infinita Bondade, nos conceda o direito de reconhecermos, aceitarmos e realizarmos Sua Vontade em todas as nossas épocas e lugares, para que só assim, possamos ser merecedores destas Dádivas de mais um dia "limpo", só por hoje.

Continuo sendo o Júnior, um adicto em recuperação, "limpo, só por hoje".

Bons momentos e TAMUJUNTU.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

"A NÓS, ANÔNIMOS"

Saudações à todos!

Gostaria de compartilhar com vocês, um 

artigo que achei interessante, feito por uma 

companheira nossa.

Espero que gostem.

Abração e bons momentos a todos.

TAMUJUNTU.




"A NÓS, ANÔNIMOS"
Drª. Maria Tude  ( Psicologa )

Como os rios que têm seu curso desviado e, às primeiras grandes chuvas, voltam ao leito antigo, nós também, sob a força de nosso passado instintivo e materialista, tendemos a nós desviar de nossa busca espiritual. Nossos passos ainda incertos e inseguros necessitam atenção carinhosa e constante para não nos perdermos de nós mesmos, da alegria de nosso despertar espiritual.

            Nós nos unimos em grupos para nos acolhermos, nos fortalecermos, para descobrirmos e fortalecermos nossa crença em um Poder Maior Amoroso que nos acompanha na descoberta de nossa humanidade, de nossa origem sagrada e em nossa transformação rumo à nossa destinação divina. Temos podido caminhar impulsionados pelo amor que encontramos uns nos outros e pela tomada de consciência desse Poder Superior de Amor e Sabedoria. Afinal, somos seres espirituais e nossa nutrição, nosso combustível natural é o Amor em suas tantas faces!

Mas viemos com uma visão egóica e instintiva de nós mesmos e do mundo. Perseguíamos os prêmios do mundo: posse, poder, prestígio, prazer físico... E, apesar de toda a dor da desilusão pelo fracasso desses gozos, que não foram suficientes para nos fazer felizes, tendemos a voltar a ver, sentir e agir do modo que ficou “gravado” em nosso ser, que rege o mundo à nossa volta. Somos desafiados, chamados, reclamados por esse mundo em Família, no Trabalho, na Igreja, na Política, no Lazer... e até nos Grupos! Esse Mundo, em todas essas formas, é o “lugar de ativa” de um viver que não mais quero para mim!

Como o carrego ainda dentro de mim, preciso cuidar do Ser que sou e Estar atenta a como ainda estou me relacionando com as pessoas e com meu Grupo! Temos a tendência, como o rio, de trazer para os Grupos, nosso ninho diferente e especial, a materialidade de fora, dando maior importância a bens do que a nossos valores, nos comparando, competindo e lutando por poder, pela supremacia de razões, informações e cargos, criando regras e “chefias” em vez de estimular lideranças naturais... Observo tantas vezes isso acontecer ameaçando nosso Grupo! Mas, não posso modificar meus companheiros! Só posso modificar a Mim!

Por tudo isso, preciso ser humilde e estar atenta à experiência dos que nos antecederam e generosamente nos deixaram sugestões que nos protegem das distrações mundanas que ameaçam de dissolução nossos Grupos – as Tradições.  Preciso ser coerente com minha busca, com meu desejo...

“Até que ponto é importante” -  todo esse resto, essa briga de egos?

Preciso estar me perguntando, Só por Hoje, Um dia de cada vez, a cada Reunião:  O que é, mesmo, que estou buscando aqui?!

Infinitas 24 Horas.